Correr pra não chegar, dividir pra não ganhar

O Tom Zé tem uma discografia maravilhosa, mas há uma trinca de ouro ali nos anos 70, discos que considero verdadeiras obras-primas: Se o Caso é Chorar, Todos os Olhos e Estudando o Samba.

Hoje estava escutando o Estudando o Samba e quando veio a canção Tô, composta junto com Elton Medeiros (parceiro de Cartola e Paulinho da Viola), viajei na mente, voltando no tempo uns 15, 20 ou 25 anos.

Aos 21 anos de idade, enquanto morava em São Vicente, prestei vestibular para o curso de História na Unisantos e passei em primeiro lugar, uma surpresa e tanto pra mim.

Mesmo com notas altas e mesmo eu tendo conseguido uma bolsa de 50% do valor das mensalidades, tive que desistir do curso ao fim do primeiro semestre, por falta de condições financeiras; eu tinha acabado de me tornar pai, trabalhava como Vigilante na prefeitura de São Vicente e não pude contar com a ajuda dos meus pais.

Dos meus 25 aos 29 anos, morando de volta em São Paulo capital, eu trabalhei no Banco do Brasil. Sim, bancário, funcionário público, concursado.

Foi a primeira vez na minha vida, desde que atingi a puberdade, que meus pais e familiares mais velhos deram demonstrações inequívocas de aprovação e/ou orgulho em relação a uma escolha ou decisão minha.

Já então eu não sentia vontade de trabalhar num banco, fazia tempo que eu tinha lido O Fio da Navalha do Maugham, Pé na Estrada do Kerouac e Walden do Thoreau; o que me motivou foi mesmo a promessa de um futuro materialmente…